Um dos maiores marcos da mineração mundial nasceu de um acaso. Em plena Floresta Amazônica, nos anos 1960, uma equipe de geólogos em busca de manganês acabou encontrando o que viria a ser a maior jazida de ferro do planeta. Essa virada inesperada deu origem ao que hoje conhecemos como Projeto Carajás — um complexo que redefiniu os rumos da indústria mineral brasileira.

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A história começou em 1967, quando a empresa americana US Steel financiou expedições à Amazônia com o objetivo de localizar novas fontes de manganês. Liderada pelo geólogo Bennie Tolbert, a equipe contava com profissionais brasileiros como Breno dos Santos, que, em uma dessas missões, decidiu investigar uma clareira incomum na mata. Foi ali, na Serra Arqueada, que um simples golpe de martelo revelou a presença de hematita, um minério de ferro de altíssima pureza.

A descoberta rapidamente ganhou proporções gigantescas. Logo se confirmou que a Serra Norte e a Serra Sul de Carajás abrigavam um volume impressionante de minério. E não parava por aí: investigações posteriores também revelaram grandes depósitos de manganês, cobre, níquel, bauxita e até ouro. A Amazônia se revelava um verdadeiro cofre mineral.

A partir daí, teve início uma corrida pelo controle da exploração da área. Para burlar as limitações legais da época, a US Steel utilizou laranjas para registrar pedidos de concessão em nome da subsidiária Meridional. A manobra chamou a atenção do governo federal, que reagiu criando uma joint venture entre a então estatal Vale do Rio Doce (atual Vale) e a própria US Steel: a Amazônia Mineração S.A. (AMSA). Em 1977, a Vale assumiria o controle total do projeto.

Entre 1970 e 1973, foram realizadas pesquisas intensivas que deram base ao início da construção de uma estrutura colossal no meio da selva. Nasciam ali os primeiros acampamentos, a vila temporária N5 e, mais tarde, o Núcleo Urbano de Carajás — uma cidade planejada para abrigar trabalhadores e suas famílias com hospital, escolas, centro comercial, clube e até cinema.

A logística para escoar a produção também exigiu ousadia: foi construída a Estrada de Ferro Carajás, com quase 900 quilômetros ligando a mina até o Porto de Ponta da Madeira, no Maranhão. A obra foi concluída em 1985 e permanece até hoje como uma das principais artérias logísticas do país.

O impacto do projeto ultrapassou fronteiras. Em 1991, o príncipe Charles e a princesa Diana visitaram o local, plantaram uma castanheira e conheceram de perto os esforços para conciliar exploração mineral com preservação ambiental.

Hoje, mais de cinco décadas após a descoberta, Carajás continua sendo um símbolo de transformação. O que era floresta densa e inexplorada tornou-se o coração de uma das mais poderosas províncias minerais do planeta. Com ela, vieram progresso, desenvolvimento e também os desafios de equilibrar avanço econômico com responsabilidade socioambiental.